sábado, 16 de octubre de 2021

antónio pedro ribeiro / cuatro poemas










No quiero ser sólo uno más

*

Pienso
¿pero por qué me canso
tanto pensando?
¿Por qué no soy sencillo
como el hombre común?
¿Por qué problematizo?
¿Por qué lo cuestiono todo?
¿Por qué me enfado con los demás
y con la humanidad?
¿Por qué no me limito a la vidita?
Sería mucho más fácil
pero yo no nací así
no me conformo
me aburro no raras veces
de esta sociedad
pero no embarco
en la felicidad fabricada
de la máquina
pienso mucho
cuestiono
leo
estudio
soy exigente conmigo mismo
no quiero ser sólo uno más.

~

Vamos a tomar la televisión

*

Dejaré versos
libros
crónicas
canciones
no soy más que los demás
soy un hombre del pensamiento
de la mujer
de la revuelta
de la libertad
los días últimamente parecen iguales
pero no lo son
la mente cabalga
presente el caos
aunque sólo vaya a la farmacia
o a la tienda
los guerrilleros están a la puerta
vamos a tomar el pueblo
vamos a tomar la televisión.

~

Fama de maldito

*

Como Fernando Pessoa
me levanto a mitad de la noche
para escribir poemas
sólo no poseo su genio
bueno, tampoco soy un desgraciadito
ya publiqué 14 libros
además de los escritos dispersos
que por ahí andan
no me han llamado
para encuentros de escritores
o conferencias
tengo la fama de beatnick,
de maldito,
una vida de copas, trasnochar y rock n’ roll
que agrada a unos
y desagrada a otros

Voy a escribir unos versos más
para probar que estoy dotado
inspirado por las musas
que, además, has estado esquivas
sólo hablan conmigo por facebook o por teléfono
tal es mi suerte
también Pessoa tenía su Ofélia
yo tengo mi Leonor
en tiempos le escribía cartas de amor
ahora ya no se usa
también estoy dejando de ser
el poeta de los cafés
me he vuelto más a los pájaros
al jardín
sigo escribiendo para periódicos
o, por lo menos, a tener el nombre
en la ficha técnica
es un hábito que viene de atrás
desde los años 80 en Braga
en “Correio do Minho”
de hecho, necesito
publicar otro libro
he producido mucho
mucho menos poesía
que prosa
voy a pedirle a Rui Manuel Amaral
que me haga otra selección
se fue el blog
se fue “Trip na Arcada”
llegó a ser importante
todo tiene su tiempo
como la Casa da Madeira
hay personas que realmente me admiran
que admiran mi arte
y esa es la mayor recompensa
nunca el éxito comercial

Como Fernando Pessoa
despierto, a altas horas de la noche,
escribo
tal vez nunca llegue a ser un gran poeta
aunque no sé
todavía estoy a tiempo
todavía no he perdido la esperanza.

~

El gran disfrute

*

La mujer, el caos, la revolución
son las cosas que me interesan
el apocalipsis del mundo
la confusión controladera y mercantil
los políticos imbéciles
todo eso me hace reír
todo eso me produce placer
como las mujeres
el fuego de las mujeres
el sexo
las mamas
la belleza y la sensibilidad superiores
auténticas diosas
les canto
las amo

disfruto con toda esa mierda.

***
António Pedro Ribeiro (Porto, 1968)
Versiones de Raquel Madrigal Martínez

/

Não quero ser só mais um

*

Penso
mas porque me canso
tanto a pensar?
Porque não sou simples
como o homem comum?
Porque problematizo?
Porque ponho tudo em causa?
Porque me chateio com os outros
e com a humanidade?
Porque não me limito à vidinha?
Seria muito mais fácil
mas eu não nasci assim
não me conformo
entedio-me não raras vezes
com esta sociedade
mas não embarco
na felicidade fabricada
da máquina
penso muito
questiono
leio
estudo
sou exigente comigo mesmo
não quero ser só mais um.

~

Vamos tomar a televisão

*

Deixarei versos
livros
crónicas
canções
não sou mais do que os outros
sou um homem do pensamento
da mulher
da revolta
da liberdade
os dias ultimamente parecem iguais
mas não são
a mente cavalga
pressente o caos
mesmo que só me desloque à farmácia
ou à mercearia
os guerrilheiros estão à porta
vamos tomar a aldeia
vamos tomar a televisão.

~

Fama de maldito

*

Como Fernando Pessoa
levanto-me a meio da noite
para escrever poemas
só não possuo o seu génio
bom, também não sou um coitadinho
já publiquei 14 livros
além dos escritos dispersos
que por aí andam
não me têm é chamado
para encontros de escritores
ou conferências
tenho mesmo fama de beatnick,
de maldito,
uma vida de copos, noitadas e rock n’ roll
que agrada a uns
e desagrada a outros

Vou escrever mais uns versos
para provar que sou dotado
inspirado pelas musas
que, aliás, têm andado arredias
só falam comigo pelo facebook ou pelo telefone
tal é a minha sorte
também Pessoa tinha a sua Ofélia
eu tenho a minha Leonor
em tempos escrevia-lhe cartas de amor
agora já não se usa
também estou a deixar de ser
o poeta dos cafés
voltei-me mais para os pássaros
para o jardim
continuo a escrever para jornais
ou, pelo menos, a ter o nome
na ficha técnica
é um hábito que vem de trás
desde os anos 80 em Braga
no “Correio do Minho”
de facto, ando a precisar
de publicar mais um livro
tenho produzido muito
muito menos poesia
do que prosa
vou pedir ao Rui Manuel Amaral
que me faça outra selecção
foi-se o blogue
foi-se o “Trip na Arcada”
chegou a ser importante
tudo tem o seu tempo
tal como a Casa da Madeira
há pessoas que realmente me admiram
que admiram a minha arte
e essa é a maior recompensa
nunca o sucesso comercial

Como Fernando Pessoa
acordado, a altas horas da noite,
escrevo
talvez nunca venha a ser um grande poeta
e daí até nem sei
ainda vou a tempo
ainda não perdi a esperança.

~

O grande gozo

*

A mulher, o caos, a revolução
eis as coisas que me interessam
o apocalipse do mundo
a confusão controleira e mercantil
os políticos imbecis
tudo isso me faz rir
tudo isso me dá prazer
tal como as mulheres
o fogo das mulheres
o sexo
as mamas
a beleza e a sensibilidade superiores
autênticas deusas
canto-as
amo-as

gozo com esta merda toda.

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