jueves, 12 de enero de 2023

simone brantes / dos poemas









Si no viajaste en las vacaciones
y te quedaste escribiendo en casa
después sentirás que es como si hubieses viajado
si escribiste y te gustó escribir
aunque te haya pesado
la casa vacía (pues todos a diferencia tuya
viajaron), el calor, el barullo de la calle,
del bar donde todos los caminos del barrio
confluyen, el miedo a no dar abasto con la tarea
Si escribiste, si te
gustó escribir, si temiste
si gozaste, si el punto final
llegó sólo cuando era necesario
ahora mirás y sentís
que hiciste el viaje, el texto es aquel paisaje
distante que atravesaste
sin poder siquiera sacar un retrato

                   para Flávia Trocoli y Alberto Pucheu

~

Brote

*

Yo estaba en un brote. Y el brote se manifestaba así: la lengua 
había crecido dentro de la boca y no tenía control sobre ella. 
Tanto se podía doblar hacia la garganta causando la horrorosa 
sensación de asfixia cuanto avanzar y salir por la boca. El hecho 
es que no conseguía usarla para expresarme y eso repercutía 
no sólo en las palabras, también en los gestos (como si fuesen 
concebidos y ejecutados dentro de la boca) atropellados, 
emperrados. La sensación era horrible y no entendí como no 
me desperté gritando, como sólo fui recordando el sueño a lo 
largo de la mañana. Ya estaba en camino al mercado cuando, 
acompañada de algunos fragmentos de ese sueño, me crucé 
con una moto vieja y desplumada que ostentaba en el motor 
un adhesivo brillante con el siguiente dicho: “Dé vacaciones 
a su lengua. Use la cabeza”. 

***
Simone Brantes (Nova Friburgo, 1963)
Versiones de Agustina Roca

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Se você não viajou nas férias
mas ficou escrevendo em casa
depois você vai ver é como se tivesse viajado
se você escreveu e gostou de escrever
mesmo que sobre você tenha pesado
a casa vazia (pois todos ao contrário de você
viajaram), o calor, o barulho da rua,
do bar aonde todos os caminhos do bairro
vêm dar, o medo de não dar conta do recado
Se você escreveu, se você
gostou de escrever, se você temeu
se você gozou, se o ponto final
veio só quando era necessário
você agora olha e sente
que fez a viagem, o texto é aquela paisagem
distante que você atravessou
sem poder sequer tirar um retrato

                        para Flávia Trocoli y Alberto Pucheu

~

Surto

*

Eu estava em surto. E o surto se manifestava assim: dentro 
da boca a língua havia crescido e eu não tinha mais controle 
sobre ela. Tanto podia recuar na direção da garganta causando 
a horrorosa sensação de sufocamento quanto podia avançar 
e sair da boca. O fato é que não conseguia usá-la para me 
expressar e isso tornava não apenas as palavras, mas também 
os gestos (como se fossem concebidos e executados dentro 
da boca) engrolados, perros. A sensação era horrível e não 
entendi como não acordei gritando, como só ao longo da 
manhã fui me lembrando do sonho. Já estava a caminho do 
mercado quando, acompanhada de alguns fragmentos desse 
sonho, passei por uma moto velha e depenada que ostentava 
no motor um adesivo brilhante com o seguinte dizer: “Dê 
férias à sua língua. Use a cabeça”.

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