Súplica
Ahora que el silencio es un mar sin olas,
Y que en él puedo navegar sin rumbo,
No respondas
A las urgentes preguntas
Que te hice.
Déjame ser feliz
Así,
Ya tan lejos de ti como de mí.
Se pierde la vida deseándola tanto.
Sólo supimos sufrir, mientras
Nuestro amor
Duró.
Pero el tiempo pasó,
Hay calmaría…
No perturbes la paz que me fue dada.
Oír de nuevo tu voz sería
Matar la sed con agua salada.
~
Sísifo
Recomienza…
Si puedes
Sin angustia
Y sin prisa.
Y los pasos que des,
En ese camino duro
Del futuro
Dalos en libertad.
Mientras no alcances
No descanses.
De ningún fruto quieras sólo la mitad.
Y, nunca saciado,
Ve recogiendo ilusiones sucesivas en el pomar.
Siempre soñando y viendo
El logro de la aventura.
¡Eres hombre, no te olvides!
Sólo es tuya la locura
Donde, con lucidez, te reconozcas…
~
Inocencia
Voy aquí como un ángel, ¡y cargado
De crímenes!
Con alas de poeta se vuela en el cielo…
De todo me redimes,
Penitencia
¡De ser artista!
Nada sé,
Nada valgo,
Nada hago,
¡Y se abre en mí la fuerza de este abrazo
Que abarca el mundo!
Todo amo, admiro y comprendo.
Soy como un sol fecundo
Que endulza y dora, teniendo
Calor apenas.
Puro,
Divino
Y humano como mis otros hermanos,
Camino en esta ingenua confianza
De niño
Que hace milagros golpeando las manos.
~
Casi un poema de amor
Hace mucho tiempo ya que no escribo un poema
De amor.
¡Y es lo que yo sé hacer con más delicadeza!
Nuestra naturaleza
Lusitana
Tiene esa humana
Gracia
Hechicera
De convertir en cristal
La más sentimental
Y opaca
Borrachera.
Pero sea porque voy envejeciendo
Y nadie me desea enamorado,
O porque la antigua pasión
Me mantiene callado
El corazón
En un íntimo pudor,
Hace mucho tiempo ya que no escribo un poema
De amor.
~
Conquista
Libre no soy, que ni la propia vida
Me lo consiente.
Pero mi aguerrida
Testarudez
Es quebrar día a día
Un grillete de la cadena.
Libre no soy, pero quiero la libertad.
La traigo dentro de mí como un destino.
¡A ver quién desdice el sueño del niño
Que se ahogó y flota
Entre nenúfares de serenidad
Después de tener la luna!
Miguel Torga (São Martinho de Anta, 1907-Coímbra, 1995)
Versiones de Raquel Madrigal Martínez
/
Súplica
Agora que o silêncio é um mar sem ondas,
E que nele posso navegar sem rumo,
Não respondas
Às urgentes perguntas
Que te fiz.
Deixa-me ser feliz
Assim,
Já tão longe de ti como de mim.
Perde-se a vida a desejá-la tanto.
Só soubemos sofrer, enquanto
O nosso amor
Durou.
Mas o tempo passou,
Há calmaria…
Não perturbes a paz que me foi dada.
Ouvir de novo a tua voz seria
Matar a sede com água salgada.
~
Sísifo
Recomeça….
Se puderes
Sem angústia
E sem pressa.
E os passos que deres,
Nesse caminho duro
Do futuro
Dá-os em liberdade.
Enquanto não alcances
Não descanses.
De nenhum fruto queiras só metade.
E, nunca saciado,
Vai colhendo ilusões sucessivas no pomar.
Sempre a sonhar e vendo
O logro da aventura.
És homem, não te esqueças!
Só é tua a loucura
Onde, com lucidez, te reconheças…
~
Inocência
Vou aqui como um anjo, e carregado
De crimes!
Com asas de poeta voa-se no céu…
De tudo me redimes,
Penitência
De ser artista!
Nada sei,
Nada valho,
Nada faço,
E abre-se em mim a força deste abraço
Que abarca o mundo!
Tudo amo, admiro e compreendo.
Sou como um sol fecundo
Que adoça e doira, tendo
Calor apenas.
Puro,
Divino
E humano como os outros meus irmãos,
Caminho nesta ingénua confiança
De criança
Que faz milagres a bater as mãos.
~
Quase um poema de amor
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor.
E é o que eu sei fazer com mais delicadeza!
A nossa natureza
Lusitana
Tem essa humana
Graça
Feiticeira
De tornar de cristal
A mais sentimental
E baça
Bebedeira.
Mas ou seja que vou envelhecendo
E ninguém me deseje apaixonado,
Ou que a antiga paixão
Me mantenha calado
O coração
Num íntimo pudor,
Há muito tempo já que não escrevo um poema
De amor
~
Conquista
Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.
Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!
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