miércoles, 26 de febrero de 2025

vinicius de moraes / mensaje a la poesía










No es posible.
No es posible.
Díganle que es totalmente imposible
Ahora no puede ser
Es imposible.
No puedo

Díganle que estoy terriblemente triste, pero no puedo ir esta noche 
[a su encuentro
Cuéntenle que hay millones de cuerpos que enterrar
Muchas ciudades que reconstruir, mucha pobreza en todo el mundo.
Cuéntenle que hay un niño llorando en algún lugar del mundo
Y las mujeres se están volviendo locas, y hay legiones de ellas de luto
Añorando a sus hombres; dile que hay un vacío
En los ojos de los parias, y su delgadez es extrema; cuéntenle
Qué vergüenza, el deshonor y el suicidio merodean por los hogares, se hace necesario
                                                                       [reconquistar la vida.

Háganle ver que tiene que estar alerta, al tanto de todos los
                                                                                 [caminos

Estoy dispuesto a ayudar, a amar, a mentir, a morir si es necesario.
Piénsenlo bien, con cuidado -no le hagan daño...- que si no voy
No es porque no quiera: ella lo sabe; es porque hay un héroe en una
                                                                                     [prisión
Hay un campesino apaleado, hay un charco de sangre en una
                                                                                           [plaza
Cuéntenle, muy en secreto, que debo estar a punto, que mis
Hombros no se deben cansar, que mis ojos no se deben
Dejar intimidar, que llevo a cuestas la desgracia de los hombres
Y no es hora de parar ahora; díganle que me ha tocado
Una parte terrible, y que posiblemente
Deberé engañar, fingir, hablar con palabras ajenas
Porque sé que existe, allá lejos, la claridad de un amanecer.

Si ella no entiende, oh traten de convencerla
De este deber mío invencible; pero díganle
Que, en el fondo, todo lo que estoy dando es de ella, y que 
Me duele tener que desvestirla así, en este poema; que por otra parte
No debo usarla en su misterio: ha llegado el momento de la iluminación
Ni detenerme en ella cuando a mi lado
Hay hambre y mentiras; y un niño llorando solo en un camino
Junto al cadáver de una madre: díganle que hay
Un náufrago en medio del océano, un tirano en el poder, un hombre
Arrepentido; díganle que hay una casa vacía
Con un reloj marcando las horas; díganle que hay un gran
Brote de abismos en la tierra, hay súplicas, hay vociferaciones
Hay fantasmas que me visitan de noche
Y que debo recibir; díganle de mi certeza

En el mañana
Que siento una sonrisa en el rostro invisible de la noche
Vivo en tensión con la espera de un milagro; por eso
Pídanle que tenga paciencia, que no me llame ahora
Con su voz de sombra; no me hagas sentir cobarde
De tener que abandonarte en este momento, en tu inconmensurable
Soledad; pídanle, oh pídanle que se calle
Por un momento, que no me llame
Porque no puedo ir
No puedo ir
No puedo

Pero no la he traicionado En su corazón
Su imagen vive, y no diré nada que pueda
Avergonzarla. Mi ausencia.
Es también una brujería
De su amor por mí. Vivo del deseo de volver a verla
En un mundo en paz. Mi pasión de hombre
Permanece conmigo; mi soledad permanece conmigo; mi
Locura permanece conmigo. Tal vez deba
Morir sin verla, sin sentirla más
Saborear sus lágrimas y verla correr
Libre y desnuda en las playas y en los cielos
Y en las calles de mi insomnio. Dile que este es
Mi martirio; que a veces
La cima de la eternidad pesa sobre mi cabeza y las poderosas
Fuerzas de la tragedia vienen sobre mí y me empujan hacia
                                                                                         [la oscuridad

Pero que debo resistir,  es necesario...
Pero la amo con toda la pureza de mi pasada adolescencia
Con toda la violencia de las viejas horas de contemplación extática
En un amor lleno de renuncias. Oh, pídanle
Que me perdone, a su triste y voluble amigo
A quien le fue dado perderse en el amor al prójimo
A quien le fue dado perderse en el amor por su casita
Por un jardín delantero, por una chiquilla de rojo
A quien le fue dado perder el derecho
de tener una casita, un jardín delantero
Y una chiquilla de rojo; y al perderse
Sería dulce para ella perderse...

Así que convenzanla, expliquenle lo terrible que es
Pídanle de rodillas que no me olvide, que me quiera.
Que me espere, porque soy suyo, sólo suyo; pero ahora
es más fuerte que yo, no puedo ir

No es posible
Es totalmente imposible
No, no puede ser
Es imposible
No puedo

***
Vinicius de Moraes (Gávea, 1913-Río de Janeiro, 1980)
Versión de Nicolás López-Pérez

/

Mensagem à poesia

*

Não posso
Não é possível
Digam-lhe que é totalmente impossível
Agora não pode ser
É impossível
Não posso.

Digam-lhe que estou tristíssimo, mas não posso ir esta noite ao
[seu encontro.
Contem-lhe que há milhões de corpos a enterrar
Muitas cidades a reerguer, muita pobreza pelo mundo.
Contem-lhe que há uma criança chorando em alguma parte do mundo
E as mulheres estão ficando loucas, e há legiões delas carpindo
A saudade de seus homens; contem-lhe que há um vácuo
Nos olhos dos parias, e sua magreza é extrema; contem-lhe
Que vergonha, a desonra, o suicídio rondam os lares, e é preciso
                                                                       [reconquistar a vida.

Façam-lhe ver que é preciso estar alerta, voltado para todo os
                                                                                 [caminhos

Pronto a socorrer, a amar, a mentir, a morrer se for preciso.
Ponderem-lhe, com cuidado – não magoem… – que se não vou
Não é porque não queira: ela sabe; é porque há um herói num
                                                                                     [cárcere
Há um lavrador que foi agredido, há uma poça de sangue numa
                                                                                           [praça
Contem-lhe, bem em segredo, que eu devo estar prestes, que meus
Ombros não se devem curvar, que meus olhos não se devem
Deixar intimidar, que eu levo nas costas a desgraça dos homens
E não é o momento de parar agora; digam-lhe que me foi dada
A terrível participação, e que possivelmente
Deverei enganar, fingir, falar com palavras alheias
Porque sei que há, longínqua, a claridade de uma aurora.

Se ela não compreender, oh procurem convence-la
Desse invencível dever que é o meu; mas digam-lhe
Que, no fundo, tudo o que estou dando é dela, e que me
Dói ter de despoja-la assim, neste poema; que por outro lado
Não devo usa-la em seu mistério: a hora é de esclarecimento
Nem debruçar-lhe sobre mim  quando a meu lado
Há fome e mentira; e um pranto de criança sozinha numa estrada
Junto a um cadáver de mãe: digam-lhe que há
Um náufrago no meio do oceano, um tirano no poder, um homem
Arrependido; digam-lhe que há uma casa vazia
Com um relógio batendo horas; digam-lhe que há um grande
Aumento de abismos na terra há súplicas, há vociferações
Há fantasmas que me visitam de noite
E que me cumpre receber; contem ela da minha certeza

No amanhã
Que sinto um sorriso no rosto invisível da noite
Vivo em tensão ante a expectativa do milagre; por isso
Peçam-lhe que tenha paciência, que não me chame agora
Com sua voz de sombra; que não me faça sentir covarde
De ter de abandona-la neste instante, em sua imensurável
Solidão; peçam-lhe, oh peçam-lhe que se cale
Por um momento, que não me chame
Porque não posso r
Não posso ir
Não posso.

Mas não a traí. Em seu coração
Vive sua imagem pertencida, e nada direi que possa
Envergonha-la. A minha ausência.
É também um sortilégio
Do seu amor por mim. Vivo do desejo de revê-la
Num mundo em paz. Minha paixão de homem
Resta comigo; minha solidão resta comigo; minha
Loucura resta comigo. Talvez eu deva
Morrer sem vê-la mais, sem sentir mais
O gosto de suas lágrimas olha-la correr
Livre e nua nas praias e nos céus
E nas ruas da minha insônia. Digam-lhe que é esse
O meu martírio; que às vezes
Pesa-me sobre a cabeça o tampo da eternidade e as poderosas
Forças tragédia abastecem-se sobre mim, e me impelem para a
                                                                                         [treva

Mas que eu devo resistir, que é preciso…
Mas que a amo com toda a pureza da minha passada adolescência
Com toda a violência das antigas horas de contemplação extática
Num amor cheio de renúncia. Oh peçam a ela
Que me perdoe, ao seu triste e inconstante amigo
A quem foi dado se perder de amor pelo seu semelhante
A quem foi dado se perder de amor por sua uma pequena casa
Por um jardim de frente, por uma menininha de vermelho
A quem foi dado se perder pelo direito
De todos terem uma pequena casa, um jardim de frente
E uma menininha de vermelho; e se perdendo
Ser-lhe doce perder-se…

Por isso convençam a ela, expliquem-lhe que é terrível
Peçam-lhe de joelhos que eu não me esqueça, que me ame
Que me espere, porque sou seu, apenas seu; mas que agora
E mais forte do que eu, não posso ir

Não é possível
Me é totalmente impossível
Não pode ser não
É impossível
Não posso.

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