Mi canto Europa
*
Ahora,
ahora que todos los contactos están hechos,
las líneas de los teléfonos sintonizadas,
las líneas de los morse ensordecidas,
los mares de los barcos violados,
los labios de las risas despedazadas,
los hijos incógnitos germinados,
los frutos del suelo encarcelados,
los músculos marchitados
y el símbolo de la esclavitud determinado.
Ahora,
ahora que todos los contactos están hechos,
con la coreografía de mi sangre coagulada,
el ritmo de mi tambor silenciado,
los hilos do mi pelo emblanquecidos,
mi coito denunciado y el esperma esterilizado,
mis hijos de hambre embarazados,
mi ansia y mi querer amordazados,
mis estatuas de héroes dinamitadas,
mi grito de paz con los látigos sofocado,
mis pasos guiados como pasos de bestia,
y el raciocinio embotado y maniatados.
Ahora,
ahora que me estampaste en el rostro
los primores de tu civilización,
yo te pregunto, Europa,
yo te pregunto: ¿AHORA?
~
Un socopé (1) para Nicolás Guillén
*
¿Conoces tú
Nicolás Guillén
la isla de nombre santo?
¿No? ¿Tú no la conoces?
¿La isla de los cafetales florecidos
y de los cacahueteros balanceando
como mamas de una mujer virgen?
Bembon, Nicolás Guillén
Nicolás Guillén, bembon.
¿Tú no conoces la isla mestiza,
De los hijos sin padres
que las negras de la isla pasean en la calle?
¿Tu no conoces la isla-riqueza
donde la miseria camina
en los pasos de la gente?
Bembon, Nicolás Guillén
Nicolás Guillén, bembon.
¡Oh! Ven a ver mi isla,
ven a verla desde aquí arriba,
desde nuestra Sierra Maestra.
ven a verla con todas las ganas,
en la cueva de la mano llena.
Aquí no hay yanquis, Nicolás Guillén,
ni los ritmos sangrientos de tus cañaverales.
Aquí nadie dice yes,
ni fuma puro o
tabaco extranjero.
(¿Qu'importa, Nicolás Guillén,
Nicolás Guillén, qu'importa?)
¿Conoces tu
la isla del Golfo?
Bembon, bembon,
Nicolás, bembon.
N. de la T. (1) Danza muy ritmada, canto y fiesta típica nocturna, en la que los participantes generalmente se disfrazan.
~
Poema
*
El Viernes de Pasión
saldré a la calle
vestido de blanco — de luto.
Saldré a la calle
con todas mis fantasías
con todas mis charrúas
teléfonos
telefonías
buques y piraguas
cucharas de alpaca
lámparas de gas
lavadoras
calentadores
y todo mi progreso
suspendido
en el traje que llevo
pintado de blanco.
Saldré a la calle
y no quitaré los ojos de la tierra
ni rezaré oraciones perezosas.
Saldré a la calle
con mis sonrisas maduras
con todos mis santos vencidos
para reírme a carcajadas
del Dios muerto, crucificado.
El Viernes de Pasión
saldré a la calle
vestido de blanco — de luto.
Dejaré en casa
a mi familia entera
con mis filósofos bantús
con mis guerreros balubas
cantando canciones yorubas.
Dejaré mis fuerzas en casa
y no saldré a la calle
aunque el sol me invite
si no en Viernes de Pasión.
***
Tomás Medeiros (Santo Tomé, 1931-Lisboa, 2019)
Versiones de Raquel Madrigal Martínez
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Meu canto Europa
*
Agora,
agora que todos os contactos estão feitos,
as linhas dos telefones sintonizadas,
as linhas dos morses ensurdecidas,
os mares dos barcos violados,
os lábios dos risos esfrangalhados,
os filhos incógnitos germinados,
os frutos do solo encarcerados,
os músculos definhados
e o símbolo da escravidão determinado.
Agora,
agora que todos os contactos estão feitos,
com a coreografia do meu sangue coagulada,
o ritmo do meu tambor silenciado,
os fios do meu cabelo embranquecidos,
meu coito denunciado e o esperma esterilizado,
meus filhos de fome engravidados,
minha ânsia e meu querer amordaçados,
minhas estátuas de heróis dinamitadas,
meu grito de paz com os chicotes abafado,
meus passos guiados como passos de besta,
e o raciocínio embotado e manietados.
Agora,
agora que me estampaste no rosto
os primores da tua civilização,
eu te pergunto, Europa,
eu te pergunto: AGORA?
(Antologia da Casa dos Estudantes do Império, Lisboa, 1963, p. 331)
~
Um socopé para Nicolás Guillén
*
Conheces tu
Nicolás Guillén
a ilha do nome santo?
Não? Tu não a conheces?
A ilha dos cafezais floridos
e dos cacaueiros balançando
como mamas de uma mulher virgem?
Bembon, Nicolás Guillén
Nicolás Guillén, bembom.
Tu não conheces a ilha mestiça,
dos filhos sem pais
que as negras da ilha passeiam na rua?
Tu não conheces a ilha-riqueza
onde a miséria caminha
nos passos da gente?
Bembon, Nicolás Guillén
Nicolás Guillén, bembom.
Oh! vem ver a minha ilha,
vem ver cá de cima,
da nossa Sierra Maestra.
Vem ver com a vontade toda,
na cova da mão cheia.
Aqui não há ianques, Nicolás Guillén,
nem os ritmos sangrentos dos teus canaviais.
Aqui ninguém fala de yes,
nem fuma charuto ou
tabaco estrangeiro.
(Qu'importa, Nicolás Guillén,
Nicolás Guillén, qu'importa?)
Conoces tu
La islã dei Golfo?
Bembom, bembom,
Nicolás, bembom.
(Literatura africana de expressão portuguesa, vol. 1: poesia / Mário de Andrade. - Lendeln: Kraus Reprint, 1970. - pp. 198-199)
~
Poema
*
Na sexta-feira de Paixão
sairei à rua
vestido de branco — de luto.
Sairei à rua
com as minhas fantasias todas
com as minhas charruas todas
telefones
telefonias
buiques e cadilaques
colheres de alpaca
candeeiros de gás
máquinas de lavar roupa
aquecedores
e todo o meu progresso
suspenso
no fato que eu trago
pintado de branco.
Sairei à rua
e não tirarei os olhos da terra
nem rezarei orações preguiçosas.
Sairei à rua
com os meus sorrisos maduros
com todos os meus santos vencidos
para me rir às gargalhadas
do Deus morto, crucificado.
Na sexta-feira de Paixão
sairei à rua
vestido de branco — de luto.
Deixarei em casa
a minha família inteira
com os meus filósofos bantus
com os meus guerreiros balubas
cantando canções iorubas.
Deixarei as minhas forcas em casa
e não sairei à rua
mesmo que o sol me convide
se não for sexta-feira de Paixão.
(Antologia da Casa dos Estudantes do Império, Lisboa, 1963, pp. 332-333)
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