viernes, 7 de septiembre de 2018

roberto piva / tres poemas












Los ángeles de Sodoma

*
 
Yo vi a los ángeles de Sodoma escalando
         un monte hasta el cielo
Y sus alas destruidas por el fuego
         abanicaban el aire de la tarde
Yo vi a los ángeles de Sodoma sembrando
         prodigios para que la creación no
         perdiera su ritmo de harpas
Yo vi a los ángeles de Sodoma lamiendo
         las heridas de los que murieron sin
alarde, de los suplicantes, de los suicidas
y de los jóvenes desaparecidos
Yo vi a los ángeles de Sodoma despeinados y
         violentos aniquilando a los mercaderes,
         robando el sueño de las vírgenes,
         creando palabras turbulentas
Yo vi a los ángeles de Sodoma inventando
         la locura y el arrepentimiento de Dios

~~~ 

Stenamina boat


                      “Prepara tu esqueleto para el aire”
                                             Federico García Lorca

 
Yo quería ser un ángel de Piero della Francesca
Beatriz apuñalada en un oscuro callejón
Dante tocando el piano en el crepúsculo
yo pienso en la vida reclamado soy por la contemplación
desconsolado miro el contorno de las cosas copulando en el caos
yo reclamo una leyenda instantánea para mi Mar Muerto
Tiempo y Espacio posan en mi antebrazo como un ídolo
hay un hueso cargando un dentadura
yo veo a Lautréamont en un sueño en las escaleras de Santa Cecília
él me espera en la plaza de Arouche en el hombro de la estatua de un santo
hoy por la mañana los árboles estaban en coma
mi amor escupía brazas en el trasero de los locos
había tinteros medallas esqueletos vidriados copos dalias
explotando en el culo ensangrentado de los huérfanos
niños visionarios arcángeles del suburbio entrañas en éxtasis alfileteados
en los urinarios atómicos
mi locura alcanza la extensión de una alameda
los árboles lanzan panfletos contra el cielo gris

~~~

Paranoia en Astrakan

*

Yo vi una linda ciudad cuyo nombre olvide
donde ángeles sordos recorren las madrugadas tiñendo sus ojos con
lagrimas invulnerables
donde crios católicos ofrecen limones a pequeños paquidermos
que salen escondidos desde las tocas
donde adolescentes maravillosos cierran sus cerebros para los tejados
estériles e incendian internados
donde reconocidos nihilistas distribuyen pensamientos furiosos y tiran
la descarga sobre el mundo
donde un ángel de fuego ilumina los cementerios en fiesta y la noche
camina en su hálito
donde el sueño de verano me tomó por loco y decapite el otoño de su
última ventana
donde nuestro desprecio hizo nacer una luna inesperada en el horizonte
blanco
donde un espacio de manos rojas ilumina aquella fotografía de pez
oscureciendo la página
donde mariposas de zinc devoran las góticas varices de las venas del ano
de las beatas
donde las cartas reclaman drinks de emergencia para lindos tobillos
arañados
donde los muertos se fijan en la noche y aúllan por un puñado de débiles
plumas
donde la cabeza es una bola digiriendo los acuarios desordenados de la
imaginación

***
Roberto Piva (São Paulo, 1937-2010)
Versiones de Leo Lobos

/

Os anjos de Sodoma

*

Eu vi os anjos de Sodoma escalando 
um monte até o céu 
E suas asas destruídas pelo fogo 
abanavam o ar da tarde 
Eu vi os anjos de Sodoma semeando 
prodígios para a criação não 
perder seu ritmo de harpas 
Eu vi os anjos de Sodoma lambendo 
as feridas dos que morreram sem 
alarde, dos suplicantes, dos suicidas 
e dos jovens mortos 
Eu vi os anjos de Sodoma crescendo 
com o fogo e de suas bocas saltavam 
medusas cegas 
Eu vi os anjos de Sodoma desgrenhados e 
violentos aniquilando os mercadores, 
roubando o sono das virgens, 
criando palavras turbulentas 
Eu vi os anjos de Sodoma inventando 

a loucura e o arrependimento de Deus 

~

Stenamina boat

*

                      “Prepara tu esqueleto para el aire”
                                             Federico García Lorca

Eu queria ser um anjo de Piero della Francesca
Beatriz esfaqueada num beco escuro
Dante tocando piano ao crepúsculo
eu penso na vida sou reclamado pela contemplação
olho desconsolado o contorno das coisas copulando no caos
Eu reclamo uma lenda instantânea para o meu Mar Morto
Tempo e espaço pousam no meu antebraço como um ídolo
há um osso carregando uma dentadura
Eu vejo Lautréamont num sonho nas escadas de Santa Cecília
ele me espera no largo do Arouche no ombro de um santuário
hoje pela manhã as árvores estavam em Coma
meu amor cuspia brasas nas bundas dos loucos
havia tinteiros
medalhas esqueletos vidrados flocos dálias
          explodindo no cu ensanguentado dos órfãos
meninos visionários arcanjos de subúrbio entranhas em êxtases alfinetados
          nos mictórios atômicos
minha loucura atinge a extensão de uma alameda

as árvores lançam panfletos contra o céu cinza

~

Paranoia em Astrakan

*

Eu vi uma linda cidade cujo nome esqueci
         onde anjos surdos percorrem as madrugas e tingindo seus olhos com
                  lágrimas invulneráveis
         onde crianças católicas oferecem limões aos pequenos paquidermes
                  que saem escondidos das tocas
         onde adolescentes maravilhosos fecham seus cérebros para os telhados
                  estéreis e incendeiam internatos
          onde manifestos niilistas distribuindo pensamentos furiosos puxam
                  a descarga sobre o mundo
          onde um anjo de fogo ilumina os cemitérios em festa e a noite caminha
                  no seu hálito
          onde o sono de verão me tomou por louco e decapitei o Outono de sua
                  última janela
          onde o nosso desprezo fez nascer uma lua inesperada no horizonte
                  branco
          onde um espaço de mãos vermelhas ilumina aquela fotografia de peixe
                  escurecendo a página
          onde borboletas de zinco devoram as góticas hemorroidas
                  das beatas
          onde as cartas reclamam drinks de emergência para lindos tornozelos
                  arranhados
          onde os mortos se fixam na noite e uivam por um punhado de fracas
                  penas
          onde a cabeça é uma bola digerindo os aquários desordenados da

                  imaginação

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