sábado, 24 de julio de 2021

ricardo domeneck / dos poemas










Solo en caso de emergencia

*

para el caso
de un trasplante
yo te donaría
un pulmón un riñón
medio hígado fallido
y si estás en la cárcel
sin plata para la fianza
cobraría los gastos
o robaría un banco
en gran estilo-bonnie
desde que tú
me desclydificaste
& te hiciste rehén
del pentágono
de al-qaeda
de los aliens
de la yakuza
yo voy al rescate
con derecho a 
un caballo un estandarte
y mil trompetas
pero no
no tengo tiempo
para el cine
no no
tengo tiempo
para un café
no no tengo
tiempo
cómo estai
estoy bien

~

Industria cultural

*

Las distracciones
para las familias del campo
exigen recursos humanos
propios.

Aquí
no se ve actuar
a grandes actores
aquí
no se ve leer
a los grandes poetas
aquí
no se ve cantar
a los grandes cantantes
aquí
no se dignan
a las interpretaciones
ni a la inteligencia

Aquí 
las iglesias evangélicas
y las academias de gimnasia
fomentan la implementación
del Mens sana in corpore sano

Las visitas a la heladería
que antes fue una pizzería
y antes, una cafetería
solo cambian las paredes
que no traen
ni una foto ni una pintura
de tradiciones centenarias.

El espacio público
-ni Ágora ni Ecclesia-
pide variaciones
-ahora los susurros-
de viejos resentimientos 
de pequeñas irritaciones 
que se acumulan
y palpitan como pústulas-

Las frustraciones del padre
las frustraciones de la madre
y así, en una escalera
las frustraciones que nacen
de todos los que vienen, en pérdidas
crecientes.

En la mesa
reina nuestra misma
falta de tema al cenar
o el tema repetido
hasta el cansancio. Las deudas
con Dios y con el César.

Y sí, el silencio
sobre los únicos temas
que quizás nos salven.
Si solo, en un instante
de lucidez repentina
ahora regaríamos
los helados, las pizzas, las comidas
con lágrimas, goteando juntos
en la cuneta. Pero, ¿qué dirían
los vecinos?

En las capitales
lloran los intelectuales
- ¡el pueblo! ¡el pueblo!-
mientras el moho y el musgo
cubren de a poco
nuestra no-boca, nuestra no-alma.

***
Ricardo Domeneck (Bebedouro, 1977)
Versiones de Nicolás López-Pérez

/

Só em caso de emergência

*

na precisão
de um transplante
eu doaria a você
um pulmão um rim
meio fígado falido
& se no presídio
sem grana de fiança
acarretaria os custos
ou roubaria um banco
em alto estilo-bonnie
desde que você
me desclydeficou
& se feito refém
do pentágono
da al-qaeda
de aliens
da yakuza
eu em resgate
com direito a
cavalo estandarte
e mil trombetas
mas não
não tenho tempo
para o cinema
não não
tenho tempo
para um café
não não tenho
tempo
como vai
tudo bem

~

Industria cultural

*

 As distrações 
para as famílias do interior
exigem recursos humanos
próprios.

Aqui 
não vêm atuar
os grandes atores,
aqui 
não vêm ler
os grandes poetas,
aqui 
não vêm cantar 
os grandes cantores,
aqui 
não se digna
a interpretações 
a intelligentsia.

Aqui, 
às igrejas evangélicas 
e às academias de ginástica 
pertence a implementação 
do Mens sana in corpore sano.

As visitas à sorveteria
que antes fora uma pizzaria
e antes, uma lanchonete, 
apenas mudam as paredes,
que não trazem 
nem fotografia nem pintura
de tradições centenárias.

O espaço público 
— nem Ágora nem Eclésia —
incita variações 
— agora aos sussurros —
dos ressentimentos velhos,
das irritações pequenas
que se acumulam
e latejam como pústulas.

As frustrações do pai,
as frustrações da mãe,
e assim, em escadinha,
as frustrações nascentes 
da prole toda, em perdas
crescentes.

À mesa 
reina nossa mesma 
falta de assunto da janta
ou o assunto repetido 
à exaustão. As dívidas 
com Deus e com César.

E sim, o silêncio 
sobre os únicos assuntos
que quiçá nos salvassem.
Quem-nos-dera, num instante 
de lucidez repentina,
aguássemos agora
os sorvetes, as pizzas, os lanches 
com lágrimas, esgoelando juntos
na sarjeta. Mas o que diriam
os vizinhos?

Nas capitais
lacrimeja a intelligentsia 
— o povo! o povo! — 
enquanto o mofo e o musgo
cobrem aos poucos 
a nossa não-boca, a nossa não-alma.

No hay comentarios.:

Publicar un comentario