paulo leminski / cuatro poemas

Abajo el más allá

*
        de día
cielo con nubes
        o cielo sin

        de noche
no habiendo nubes
        salen siempre
las estrellas

        qué daría
por un cielo vacío
        azul libre
de celo
        y de sentimiento

~~

   UN BUEN POEMA
lleva años
   cinco jugando fútbol
cinco más aprendiendo sánscrito,
   seis cargando piedras,
nueve de novio con la vecina
   siete con una vida de perro
cuatro andando solo
   tres mudándose de ciudad,
diez cambiando de tema,
   una eternidad, tú y yo,
caminando juntos

~~~

Profesión de fiebre

*
      cuando llueve,
lluevo,
      hace sol,
hago,
      de noche,
anochezco,
      hay dios,
rezo,
      no hay,
me olvido,
      llueve de nuevo,
de nuevo, lluevo,
      silbo en el viento,
de aquí me veo,
      allá voy,
gesto en el movimiento

~~~

El silencio de Buda

*

el cristianismo nació
de las palabras de Jesús

el zen nació
de un silencio de Buda

un día el iluminado
en lugar del sermón
presentó a los discípulos
una flor
sin decir nada
un solo discípulo entendió
mahakasyapa
primer maestro zen
la doctrina de la meditación silenciosa
de la concentración relajada
de la danza no danzada
de la voz sin voz
de la iluminación súbita
de la luz interior
de la superación dialéctica de los contrarios
en la vida diaria

***
Paulo Leminski (Curitiba, 1944-1989)
Versiones de Iván García

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Abaixo o além

*
        de dia
céu com nuvens
        ou céu sem

        de noite
não tendo nuvens
        estrela
sempre tem

        quem me dera
um céu vazio
        azul isento
de sentimiento
        e de cio

~ 

    UM BOM POEMA
leva anos
   cinco jogando bola
mais cinco estudando sánscrito
   seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha
   sete levando porrada
quatro andando sozinho
   três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
   uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

~ 

Profissão de febre

*
      quando chove,
eu chovo,
      faz sol,
eu faço,
      de noite,
anoiteço,
      tem deus,
eu rezo,
      não tem,
esqueço,
      chove de novo,
de novo, chovo,
      assobio no vento,
daqui me vejo,
      lá vou eu,
gesto no movimento

~ 

O silêncio de Buda

*

o cristianismo nasceu
das palavras de Jesus

o zen nasceu
de um silêncio de Buda

um dia o iluminado
em lugar do sermão
apresentou aos discípulos
uma flor
sem dizer palavra
um único discípulo entendeu
mahakasyapa
primeiro patriarca do zen
a doutrina da meditação silenciosa
da concentração descontraída
da dança não dançada
da voz sem voz
da iluminação súbita
da luz interior
da superação dialética dos contrários
na vida diária